segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O que ganha é bom, o resto não presta

Ser treinador no Brasil é complicado. Julgo ser um dos piores trabalhos possíveis dos muitos relacionados ao futebol.

Se o cara fala difícil, ele é muito intelectual e 'não fala a língua dos jogadores', se ele é 'boleirão', o julgam sem inteligencia; se vai muito à beira do campo, reclamam que é espalhafatoso; se fica sentado no banco, 'não joga com o time, é pouco participativo'; se se veste bem, é muito mala; se se irrita com uma derrota ou com uma má atuação é mal educado e fala muito palavrão; se é tipo o Bernardinho, mais enérgico, Fulano não gosta... Legal né?

É chato ser treinador aqui pois há interferência de todas as partes. A torcida pressiona, a diretoria questiona, os jogadores fazem corpo mole e assim o profissional vai sendo pressionado até chegar ao ponto de ser demitido ou pedir pra sair.

Alex Ferguson chegou ao Manchester United em 1986.
Só ganhou o primeiro título em 1992. Está lá até hoje.
Isso tudo é cultural, não adianta. No meio de uma globalização enorme no mundo em que vivemos, no meio de toda a 'babação' nas metodologias de trabalho dos europeus, no meio desse crescimento absurdo do negócio futebol, não conseguimos fazer o mais simples, dar tempo e ter paciência com os treinadores que trabalham Brasil afora.

Aqui é 'normal' o time perder um clássico ou ter uma sequencia razoável de empates ou derrotas para a culpa cair toda nas costas do treinador. Isso não é algo correto, é covardia.
Eu defendo a tese de que treinador não cruza, treinador não bate penalti, não chuta no gol, não erra passe, não cruza bola de um lado pro outro no meio campo, enfim, não joga. É óbvio que há uma responsabilidade grande no trabalho do dia dia, na boa condução de um grupo de 30, 35 jogadores, isso é a essência da profissão, mas quero que entendam que há uma 'trairagem' aí no meio.

Jogador de futebol é uma raça do caramba, difíceis de lidar, acham que podem fazer tudo o que querem, enfim, mimados demais. Se escondem atrás de uma superproteção absurda das assessorias de imprensa e de futebol dos clubes, e quais são os profissonais que depois de todo jogo estão sentadinhos na sala de entrevistas precisando falar, se explicar e dar alguma satisfação ao torcedor? Os treinadores.

Não estou aqui para defender os treinadores, falar que são santos e que estão sempre certos, não, não deliro, mas acho uma tremenda injustiça o que a cultura infantil do brasileiro acaba trazendo para a profissão, os malefícios, e são muitos.
Jogador faz corpo mole demais, o bastidor do futebol é sujo, todos sabem, mas o que os caras que deveriam resolver no campo fazem quando alguma situação não lhes agrada, é impressionante.

Isso não existe.
Uma coisa é o ciclo natural do profissional que comanda um clube acabar, outra coisa é a trasnferência de responsabilidade que vemos a cada 2, 3 rodadas do campeonato brasileiro. É um absurdo.
Juro pra vocês, torcedores da geração playstation, que não é só colocar o 'carinha' que tem mais stamina no ataque e o que tem mais speedy accuracy na lateral, fazer um 3-4-3 com 1 volante, 3 meias ofensivos e 3 atacantes e rolar o melão. É sério, não fiquem chateados comigo, mas o 'computador' do playstation ou do XboX, não é tão bom quanto o time que está do outro lado no campo de jogo, na vida real.

"Ah, o time tá mal, que que a gente faz?" "Po, vamos ver. Em vez de mandar 3, 4 embora, vamos mandar o treinador e sua comissão. É mais fácil, não perdemos tanto dinheiro e o grupo se reanima"
Essa é uma conversa natural no meio do futebol. Na minha interpretação é mais ou menos assim: 'Bom, o time vai jogar bem nas duas rodadas seguintes à demissão do treinador antigo e depois disso, vemos o que acontece', fácil ser dirigente aqui né?!

Não quero que achem certo o jeito que os europeus comandam o futebol deles por lá, é óbvio que é diferente, mas achem errado e questionem o que é feito aqui no Brasil.
Tops são uns 3 ou 4, o resto é tudo parecido. A atualização é necessária para todos, os clubes têm estruturas boas pra se trabalhar, além do fato de sempre haver 7 ou 8 candidatos ao título todo ano.'
A grande diferença mesmo quem faz é o jogador, principalmente em time grande. Não se iludam.

Já cansei de ouvir jogador (de time pequeno, hein) dizer: "Po, esse mané (treinador) falando besteira? Jogo bola há 10 anos, não preciso de treinador, a gente já sabe o que tem que fazer. É todo mundo rodado aqui". E aí, qual é a solução? Tem mais é que deixar os caras se ferrarem mesmo. Deixar a torcida xingar (óbvio que xingar é uma coisa, ameaçar, agredir e infernizar a vida pessoal dos atletas é outra) até que os caras resolvam correr dentro de campo.

E o que não faltam são exemplos de grandes elencos que fizeram e fazem campanhas tenebrosas. Na maioria das vezes, de propósito.
Atlético-MG, Cruzeiro, Fluminense e Inter. Com os elencos que têm, não podem jogar o que jogam. Tudo em dia, bonitinho, CT bom pra treinar, alimentação de qualidade, enfim, toda a estrutura necessária pra trabalhar e os caras vêm ficar de gracinha? Ah não, que isso.

Nenhum time se enrola mais que o Atlético-PR, por exemplo. O Antonio Lopes foi demitido e contratado 635 vezes em 1 ano. Po!!! Aonde estamos???

Assim como Muricy Ramalho, eu também defendo um contrato que ajude os treinadores a terem um pouco mais de segurança no trabalho a ser realizado e deixem os dirigentes menos livres pra demitirem e contratarem de uma maneira desenfreada.

Esse texto serve pra você, torcedor desprovido de inteligência, que acha que vai sair o Tite, o Felipão, o Roth, o Adílson, o Luxemburgo, o Joel e vai entrar o Ferguson, o Mourinho, o Rafa Benitez, o Bianchi ou o Guardiola. Não, não vai. Dividam a responsabilidade com os jogadores e com os diretores que planejam o ano e na 4a partida sem vitória já querem fazer algum 'movimento' interno.

Quando perceberem que o técnico não tem culpa de TUDO que acontece e pararem de achar que jogador não joga bem porque é mal escalado ou porque tá cansadinho, talvez a gente consiga ter um pouquinho mais de seriedade no comando dos clubes, caso contrário, teremos outros trocentos técnicos demitidos até o final do campeonato.

Deixem os caras trabalharem. Desde Tite até Mano Menezes, passando por Felipão e Joel Santana. Eles são profissionais assim como você, leitor. Trairagem no ambiente de trabalho é difícil, pensem e vejam se a grandeculpa é de quem comanda ou de quem é comandado.

No final, Tite vai cair e o Corinthians não vai ganhar o título e quem vai receber a culpa? Os jogadores que podiam ter vencido os jogos, porque têm chances e bola pra isso ou o técnico que 'perdeu' pontos importantes e não escalou direito ou fez uma substituição errada? É, são muitos treinadores que vão pras arquibancadas e falam muito, sem saber nada. No final, nada muda, cultura é cultura.

Brasil sil sil sil...

Abs.
Felippe Palermo.

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3 comentários:

  1. Parabéns ,Campeão !Muito bem colocado .
    Abs

    Valdir Espinosa

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  2. Mtooo bomm coisaa lindaa!! rss
    Parabéns Felippee...mto bom o texto...
    Eh mto isso msmo, concordo cntg em tudo!!!
    Jogador q ganha os jogos, e téc nao cruza, nao passa etc etc, enfim...FATO!!!

    Bruno Miguel

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  3. É mais ou menos por aí mesmo, Bruno!!
    Os caras sao muito mimados. Tem que chamar mais a responsa.
    Essa transferência de responsabilidade nao traz nada de bom ao futebol brasileiro!

    Valeu, meu querido!
    Abs.

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